tag:blogger.com,1999:blog-81487301600220205472024-03-14T05:29:35.040-03:00INSIGHT SOTURNORo Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.comBlogger123125truetag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-28620338291793219852014-07-14T19:29:00.001-03:002014-07-14T19:29:47.579-03:00A fome<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Trocaram olhares
entre grades.
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Cada um em sua jaula
espiava o olhar do outro em busca de, sem saber, um plano de fuga.
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Por um tempo não
ousaram falar mas, com os dias passando e a rotina da prisão se
assentando nos corpos, foram se aproximando. Dormiam um pouco mais
perto, comiam se entreolhando e, às vezes, se sorrindo, sempre com
os traços negros tão simétricos das barras de ferro poluindo a
visão.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Depois, viviam
beirando a grade que separava os dois espaços cúbicos. Mesmo de
costas, olhando ou fingindo olhar qualquer coisa na parede de lá,
sentiam a presença do outro como a de um gêmeo que se esconde em
útero alheio.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
E foi num dia sem
nada de especial, sem planejamento nem maldade, que se tocaram pelo
espaço entre as barras.
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Sem saber ao certo
como a coisa começou, rápido se abraçavam entre os metais. Um
agarre desengonçado e preso que proporcionava um encaixe há muito
ansiado. No desconforto da cadeia gelada ficaram vermelhos. Mãos
corriam pelas costas, pela pele que suava já e olhos nos olhos tão
perto que se olhavam com medo de serem engolidos. Línguas nos dedos
e na palma da mão, bocas nos ombros, nos rostos; o encaixe dos
quadris e das cinturas e o beijo molhado e suculento de línguas
famintas que se acabava na grade e com gosto de ferrugem antes mesmo
de começar.</div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br />
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Ficaram assim por
horas, com a grelha de ferro aprisionada entre um abraço de tesão
puro. Choraram juntos sem se soltar. Trovejaram hipócritas contra a
prisão que lhes impedia de amar – sem querer notar que não havia
cárcere nem carcereiro: a chave estava bem ali, uma metade escondida
em cada uma das bocas que se recusavam a juntar.</div>
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-236893479787031142014-01-31T01:40:00.002-02:002014-01-31T01:40:11.624-02:00Linha BrancaNa era da funcionalidade, vivemos o amor eletrodoméstico.<br />
<br />
No momento em que paramos de agradar as pessoas como promete o manual, somos descartados e, no nosso lugar, logo surge outro aparelho, mais moderno, comprado a prazo e já com data marcada para quebrar.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-27551772187515328672014-01-10T14:12:00.000-02:002014-01-10T14:12:16.087-02:00Paradoxo do Tempo<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ontem voltei no tempo. Me encontrei
quando eu tinha vinte e um anos de idade.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Tentei me avisar que as pessoas vão
gostar mais de mim se eu for honesto e aberto, não porque o eu de
verdade é uma pessoa melhor mas porque pessoas de verdade são as
únicas que se pode amar, com todos os defeitos e dificuldades.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Eu disse pra ele que é preciso olhar
pra dentro e encarar a sua dor represada. Que guardar tanto ódio e
tanta mágoa num canto obscuro de você não vai funcionar. Essa
contenção sempre arrebenta e passa por cima da sua felicidade.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
A impressão que fiquei é que ele
sequer me entendeu direito. E lembrando de como eu era naquela época,
imagino que seja difícil vislumbrar a possibilidade de ser feliz e
amado expondo o que existia – e existe – dentro de mim. As
personagens que eu criava pareciam tão mais atraentes e
interessantes.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Percebi que talvez o paradoxo da viagem
no tempo me impedisse de efetivamente mudar alguma coisa em mim
mesmo. Se eu aprendesse instantaneamente aos vinte e um anos tudo o
que sei agora, eu não teria passado pelas dificuldades, pelos erros
e pelas descobertas que passei e não poderia estar lá para me
contar isso tudo.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Mas sabendo o monstrinho que eu era, o
quanto eu iria ferir os outros, pensei que poderia avisá-los: saiam
de perto de mim. Esperem uns anos, lá na frente eu vou ser melhor,
vou ser mais sábio e mais verdadeiro. Mas outra vez, foram essas
pessoas que me fizeram crescer e se eu fugisse delas ou as fizesse
fugir de mim, estaria pra sempre preso naquele mundo de ilusão que
criei.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Então decidi que não havia nada a
fazer a não ser ficar ao meu lado e ser o mais parceiro possível,
apoiar-me nos momentos em que as descobertas doloridas chegarem e
sempre me avisar de que o futuro é melhor e de que toda essa dor e
essa dificuldade em aprender, vão me recompensar com juros.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Eu te(me) amo, imagem no espelho.</div>
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-42205894440647470072012-12-08T13:56:00.001-02:002012-12-08T13:56:42.787-02:00PreceSai de mim, exu-eu-mesmo!Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-85242218584282431092012-11-18T17:00:00.000-02:002014-01-02T18:10:00.189-02:00Rios Negros<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ouvi a porta do banheiro se fechar com
um clique suave. Era o único lugar protegido das paredes de vidro
que cercavam o salão. O cheiro dela foi até lá, mas deixou um
rastro de feromônios que me faziam queimar por dentro como um bicho.
Imaginei a cena lá dentro. Ela aguardando por mim.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
A realidade superou o sonho.
Prostrada de cabeça baixa, os cabelos de cobre sobre o rosto e indo até
os joelhos. Toquei de leve o seu queixo e a fiz olhar para os meu
olhos. Logo meu pau entrava todo na boca carnuda e tocava o fundo
suave e quente de uma garganta ávida.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
As lágrimas corriam cheias de
maquiagem e escorriam negras pelas bochechas. Um choro de prazer meu
e dela. Quando eu não empurrava sua nuca contra meu tronco, ela
mesma se apoiava em minhas coxas e auto-infligia o duvidoso
castigo de se sufocar em mim.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Quando me senti satisfeito, empurrei a
cabeça e o corpo dela pra longe. Observei por pouco tempo a cara
infantil, sacana e feliz e mãos maduras que limpavam o rosto dos dois
rios escuros que iam até o pescoço esguio e gostoso. Ali começava
nossa história e não ia acabar facilmente.</div>
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-78596066647163041042012-11-16T03:54:00.001-02:002012-11-16T03:54:15.899-02:00Planos<br />
A pele nua se arrepiava por inteiro.<br />
<br />
Mesmo num dia tão quente, o vento era fresco. Especialmente na altura em que estaria o vigésimo terceiro andar do prédio, se não estivesse ali aquela carcaça abandonada de andares sem paredes. Era o fim da tarde e o por do sol se fazia em meio a nuvens de fumaça poluída, jogando sobre eles um banho laranja de luz.<br />
<br />
Ele em pé à beira do precipício de andares de mortos, uma silhueta escura contra o sol, altivo e elegante, fumando um cigarro sobre um cenário de prédios e prédios que cobriam uma ampla vista da cidade.<br />
<br />
Ela às vezes baixava os olhos e via as próprias pernas nuas, com pelos erguidos em resposta ao vento que lhe chegava pelas costas, vindo do escuro do leste que já anoitecia. A luz laranja marcava os poros abertos bem como a forma roliça das coxas sentadas numa cadeira, que lembrava muito as cadeiras do colégio. Descalça, ela tinha os pés apoiados pelas pontas sobre o chão sujo de cimento rústico e pelos tornozelos no ferro frio da cadeira. Olhou o próprio colo e os seios, grandes em comparação à cintura fina, também pintada pelo poente, e achou que seu corpo, se não era sempre bonito, hoje estava desejável. Sentiu que nessa noite, seria amada. E então a sombra dele se moveu sobre o corpo dela.<br />
<br />
Ele vinha baforando a última nuvem de alcatrão, de calça e sapatos sociais e a camisa desmontada de quem sai cansado do trabalho. Parou com um olhar curioso deixando o abdomen de frente pra ela e com a mão fez uma carícia calma e forte nos cabelos vermelhos. Desceu pela nuca, pescoço e ombros. Seguia pelo corpo dela com a fluidez da água que procura caminhos para escoar, explorando todos os centímetros, mas também com o peso de algo mais opressivo, mais denso. Era como uma avalanche sobre a carne dela, e seguia sem medo e sem freios. A outra mão também veio, quente sobre a pele fria. Uma nova avalanche, firme, carinhosa e dominadora. A primeira já havia medido o tamanho de um seio e encaixado dedos por entre costelas. Agora seguia rumo ao ventre. A segunda segurava o maxilar e com o polegar navegava a boca, apertando lábios distorcidos.<br />
<br />
Quando a digital quente e suada forçou a entrada e tocou dentes, ela instintivamente lançou a língua pra fora e, nem bem provou algum gosto, o mundo girou. O tapa foi forte e rápido. O rosto fervia e ainda guardava o formato da mão pesada. Ela sorriu... e compreendeu que era o momento de estar passiva e atenta.<br />
<br />
A primeira mão nunca perdeu o ritmo, nem a força certa. Continuou seu passeio delicado e decidido pelo ventre e agora entre as coxas. A segunda, que voltara aos lábios e explorara dentes molhados – e agora obedientemente cerrados –, já descia e testava no pescoço um leve enforcar. Sem cordas nem correntes, ela se via presa à obediência que ele inspirava. A mão que ia entre as coxas a sentiu úmida e recuou rápida enquanto a outra trocou o pescoço pelos cabelos num puxão violento que a ergueu da cadeira. Enquanto a dor ainda gritava, uma língua enorme e macia invadiu a boca dela numa explosão de sentidos e confusão. Falta de ar.<br />
<br />
Quando pode respirar de novo, estava de joelhos.<br />
<br />
À frente ela via a cidade toda. As luzes das janelas de incontáveis prédios se acendiam e apenas uma fresta de sol ainda esperava pra desaparecer por trás do relevo. A voz grave surgiu baixa e quente no ouvido esquerdo.<br />
<br />
“Em cada janela, uma chance de que estejam te vendo”<br />
<br />
Conforme sentiu que o arfar da boca quente dele se afastava, ela se virou para encontrá-lo sentado na cadeira, com outro cigarro pendurado nos lábios. Nada foi dito e olhares se cruzaram longamente. A expressão quase fria o deixava ainda mais bonito.<br />
<br />
Ela entendeu que devia acender o cigarro. Lentamente tocou nos bolsos da calça preta. A ponta de um dedo sentiu o pau duro enquanto migrava ao outro lado do corpo, ao outro bolso, para ali encontrar um isqueiro. Ela se ergueu, acendeu o cigarro com mãos trêmulas e sentiu os joelhos dançarem por sobre pequenas pedrinhas da construção. Ele tragou com gosto e permitiu a ela um banho em fumaça. Com um sorriso largo, ele se levantou, tomou-a pela trança rubra e andou em direção a um canto sem luz. Ela seguiu como pôde, puxada pelos cabelos, trôpega e ansiosa até ser largada e cair sentada no chão.<br />
<br />
Estavam agora no escuro. E o som de correntes tilintava quando o aço frio tocou a pele agora quente e suada. Foi lenta, mas ritmada, a forma com que ele envolveu o corpo dela. Uma cruz de correntes sobre o abdomen que descia para enrolar as coxas e subia pelas costas, prendendo ali os braços e cruzando por fim sobre o pescoço, numa leve forca metálica, que a prendeu contra a coluna de concreto. Olhos arregalados, a expectativa da dor. E a dor veio, em tapas calmos e calculados. Ele batia em tempos precisos para interromper em pleno auge os sorrisos e as lágrimas que ela oferecia. A cada impacto, as correntes e o pequeno corpo tremiam. Como um batuque antigo, os tapas marcavam e davam o ritmo, ininterruptos, cada vez mais intensos e assim não demorou para que a dor desse lugar a um transe de êxtase. Sem espaço nem tempo. Os vultos do movimento dele eram lentos e lindos, como um balé de morte. O gosto de sangue, a boca cortada. O cheiro de suor e pele e concreto e cidade. O cheiro dele. Cada elo da corrente, cada pedaço quente de carne no rosto batido.<br />
<br />
E então tudo parou. Houve um curto vazio no escuro até que ele meteu um pau duro e grosso na boca dela.<br />
<br />
Acorrentada, à mercê dele para ser sufocada e usada à gosto. O gosto. Intercalando estocadas lentas e profundas com movimentos rápidos e violentos, ele se levou ao orgasmo e gozou em lábios e língua. Porra dele e sangue dela.<br />
<br />
O corpo dele recuou dois passos para admirar a obra. Com as calças ainda abertas, seguras por uma mão enquanto a outra atendia aos cabelos caídos no rosto e ajudava à recobrar a total consciência de atos. Dali, ele sorria soturno mostrando dentes num facho de luz enquanto os olhos se perdiam no escuro. Aos poucos o coração dela retornava, a dor nos joelhos e no rosto e na garganta tomavam o espaço do transe de há pouco. As correntes agora já iam aquecidas e a noite parecia infernalmente quente. Havia suor em tudo. Ela se permitiu sorrir para ele, cansada e cúmplice. Ele retribuiu por alguns segundos. Fechou as calças e caminhou para o escuro.<br />
<br />
Com um clique, as correntes se soltaram e ela foi de quatro ao chão. Logo ele estava agachado ao lado dela, ombros sob a barriga e por instantes ela pensou que voava. Sustentada pela força dele, enquanto era carregada de volta ao espaço iluminado onde ficava a cadeira, ela viu que a noite já ia alta e uma lua tímida saia do horizonte. Por quanto tempo estiveram ali?<br />
<br />
Ela, que há pouco pensou estar tudo terminado, também se enganou ao pensar que voltaria à cadeira. Caminharam até a beira do precipício em que ele fumara vendo o sol se ir. O medo subiu sufocante pela garganta. Com ele parado no mais extremo da laje de concreto, o corpo dela estava mais que pela metade em pleno ar. Qualquer movimento significava morrer. O vento e o medo gelaram o suor na pele. Ele deu um passo atrás e a plantou em pé no mesmo ponto que ele antes ocupava. As pernas dela tremiam, mas os dois braços estavam travados por ele. Tão firmes que mesmo que ela quisesse, não poderia voar. O medo era um grande afrodisíaco: quando ele enterrou uma mão entre as pernas dela, ela estava mais úmida que em qualquer outro momento da noite. Saindo a mão, ele enterrou o pau grosso e também molhado dentro dela.<br />
<br />
Domada, ela balançava de leve à beira da queda, vendo cada vez mais janelas acesas de onde tantas pessoas poderiam ver o que faziam, bastando apenas que olhassem. Tão bem presa pelos braços, tão livre no ar, entre o medo e o prazer.<br />
<br />
Ele usou a mão livre para puxá-la outra vez pelos cabelos, agora soltos e suados. As mãos dele trouxeram a cabeça pra trás, o suficiente para que ele pudesse lamber o canto da boca dela e uma grande porção do rosto, deixando uma trilha de saliva fresca. No ouvido, outra vez, a voz grave e baixa e surpreendentemente calma.<br />
<br />
“Agora você goza”<br />
<br />
Ela obedeceu instantaneamente enquanto ele gozava dentro dela. Com o orgasmo, foi embora a força nos braços e pernas de ambos e faltou pouco para que caíssem no vazio. Mas ainda houve destreza para que se sentassem entrelaçados, encostados num grande tonel de metal. Ele ainda nas roupas sociais, mas com calças pelos tornozelos. Ela gloriosamente nua na noite da cidade.<br />
<br />
Quando ele recostou nela a cabeça suada e deu um beijo delicado nos ombros, ela sentiu a barba se abrir em um sorriso doce sobre a pele, ela sabia que o jogo estava terminado. Virou a cabeça pra trás e se encontraram em um beijo de cansaço feliz, de amizade verdadeira e de uma vontade louca de um banho que precederia uma longa noite de conversas nalgum bar da iluminada cidade que se acalmava agora, alheia ao precipício dos amantes.<br />
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-80957526493517589852012-11-06T03:11:00.001-02:002013-09-10T20:10:39.146-03:00Mentiras<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Estão um
pouco bêbados e riem bastante. Se agarram, ela o coloca na parede,
levanta a blusa. Estão se amassando com vontade. As roupas vão
caindo, estão em arfantes. Ele abaixa as calças, as pernas dela em
volta dele. Ele penetra com dificuldade. Duas estocadas. Ela sorri
primeiro e logo sente dor.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Pára. Pára.
Tá doendo.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ele pára, tira devagar. Eles evitam
se olhar. Ele passa a mão nos cabelos dela e vai pro banheiro.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Amanhã você
vai lá?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ele responde de lá.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Vou sim. Quer
ir?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Acho que não.
To cansada e amanhã vou estar numa ressaca louca.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ouve o chuveiro abrir.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Amor. Da onde
você conhece aquela moça?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Qual?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Aquela bonita
de vestido verde. Não lembro o nome dela.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Ah. Ela
estudou com meu irmão. Eles tavam dois anos atrás de mim no
colégio.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ela vai aos poucos começando a se
masturbar. Sem estardalhaço, carinhosamente.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Hummmm. E quem
pegou ela na época, você ou ele?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: (rindo) Os
dois acho. Mas ele não tenho certeza se conseguiu.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: É. Você tem
bom gosto pra mulher. Ela é linda. Aposto que ela te deixou o
telefone.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Tá com ciúme,
é?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Depende. Eu
ganhei a aposta?</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Agora o ritmo aumenta depressa.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Que aposta?!</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Apostei que
ela te deu o telefone dela na festa...</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ela está quase gozando.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: Ah amor. Pára
com isso. Claro que não deixou...</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Frustrada, ela interrompe a masturbação. </i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: ... e se tivesse
deixado eu ia te falar. Mas ela não é esse tipo de gente.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ela: Ah tá. Você
já tá acabando? Preciso desesperadamente do chuveiro.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: To quase.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ela pega toalhas, roupas de dormir.
Senta na cama entediada. O chuveiro demora mas fecha. Ele sai se
enxugando e carregando as roupas que tirou.</i></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
Ele: É todo seu.</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ela sorri amarelo. Pega as coisas
dela e passa pro banho. Não se olham. Ele senta na cama e vasculha a
calça. Ouve-se o chuveiro abrir e uma porta fecha, deixando passar
só uma sombra dos sons do banheiro. Ele acha um pequeno papel no
bolso. Retira, olha e pensa um tempo. Olha pro banheiro um pouco
intrigado. Pega o telefone celular e transcreve um número do papel
para a agenda do telefone, com um sorriso levemente maroto.</i></div>
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-80696892945328610802012-11-03T03:16:00.003-02:002012-11-06T02:34:56.862-02:00À intelectualidadeDizem que já temos personalidade aos sete anos de idade. Então essa gente - que dedica uma vida debruçada em livros de outras gentes - no fundo só quer provar por A mais B que a avó deles é quem estava com a razão.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-54142060877785047212012-10-28T06:50:00.001-02:002012-10-28T06:51:41.405-02:00IrmãosNão sei de onde nem porque<br />
mas saí do nosso abraço<br />
com estranhamento.<br />
<br />
A despeito do bom encaixe de braços e costelas e ombros,<br />
faltava um beijo ou sobravam medos.<br />
<br />
Talvez o contrário, mas acho que não.<br />
<br />
Essa maldita distância entre irmãos:<br />
todos nós tão iguais em nosso medo de ser um só.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-48283638924306002272012-10-13T14:05:00.003-03:002012-10-13T14:05:27.159-03:00Projeto 1 ano sem facebook......começou agora.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-22216208601000851672012-09-19T00:13:00.002-03:002012-09-19T00:13:18.485-03:00SeparaçãoE porquê temer a separação?<br />
<br />
Em cada separação há um novo encontro, uma nova amizade, um novo amor, uma nova descoberta, outro alguém. E porque temer se aquela pessoa que andou ao seu lado por um tempo já está capturada em alma dentro de ti. Nada se perde. Ir e voltar e reencontrar para descobrir que nada decaiu. Laços não se rompem jamais.<br /><br />Na verdadeira amizade é preciso deixar ir. <br />Para viver de verdade, é preciso saber ir.<br />
<br />
Akabi disse tudo isso à jovem aprendiz sem pronunciar nem uma palavra.<br />
<br />
Foi apenas porquê agachou-se até que os olhos dela e os dele estivessem nivelados, segurou-lhe no ombro esquerdo com ternura e sorriu com olhos mareados enquanto o vento lhes balançava os cabelos, que ela compreendeu: nada a temer, vivemos um no outro.<br />
<br />
Então ela tomou a iniciativa de bagunçar como sempre fez os cabelos do jovem mestre. Virou-se de costas e caminhou decididamente de volta à cabana. Enquanto sorria por entre lágrimas felizes pela descoberta do laço e tristes pelo hiato que teriam, Akabi também virou-se, igualmente com olhos marejados e orgulhosos, e deu o primeiro passo para além.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-75836403798064525422012-09-08T13:52:00.002-03:002012-10-29T21:36:32.931-02:00Amar só<br />
Como deixar todos os amores pelo amor de um só?<br />
Uma personalidade tem só um ínfimo do carinho todo do mundo.<br />
<br />
Como saber o sabor d'uma alma se só essa alma te alimenta?<br />
A língua desaprende a degustar se sente sempre um gosto só.<br />
<br />
Amar só uma pessoa só não é amar.<br />
Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-34421934815263541782012-09-01T16:44:00.001-03:002012-09-07T12:43:59.157-03:00Tudo<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">Cada beijo que não é dado com cada dor que dorme recalcada, </span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">e também cada toque rejeitado, escurece um canto do nosso olhar.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">Essa armadura de vidro que só rompemos no silêncio do gemido arfante</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">e que vira aos poucos caixão de nós mesmos, mortos no segundo seguinte em que se goza.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">Tudo é solidão, salpicada de vultos do que seríamos juntos</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">em amizade verdadeira e em amores sem temores. Nossa potencialidade de seres coletivos e unos dissolvida em medo e apreensão.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">Forjamos regras para viver em desacordo ao que somos e nossas regras nos impedem de viver. Vagamos com caras de sãos, pedindo um socorro silencioso que rejeitamos assim que nos é oferecido, com o sorriso leve e falso de quem diz que está tudo bem.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;" /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;">E tudo é solidão.</span>Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-19694560506276078812012-08-17T22:23:00.002-03:002012-11-06T02:43:25.996-02:00AmorA silhueta do teu rosto dorme por entre cabelos. Linda.<br />
<br />
imagino<br />
(Corro a curva da sua testa, do teu nariz. Toco teus lábios nas pontas trêmulas dos meus dedos. Sinto tua pele com textura de nuvem, tua temperatura de calor descansado e a umidade inventada dos teus lábios que infecta e ocupa minha carne)<br />
<br />
Estou irremediavelmente você.<br />
<br />
Não é corpo nem sexo. É te tragar pra me entorpecer. É desejar compreender a composição química e o que há abaixo dessa silhueta e desses cabelos. Carinho profundo de irmanar duas almas sem prejuízo do que já são.<br />
<br />
Respeitosamente silencioso, confortável na platéia da tua mente, quero ouvir o marulhar rebelde do que pensa e sente tua juventude confusa. Rir e chorar baixinho, acompanhando o drama do teu eu. Te entender profundamente e me entender esse coadjuvante de você que quer também alterar o rumo da tua história.<br />
<br />
Somos espectadores e estrelas da vida um do outro em fusão de duas individualidades que resultam em duas maiores ainda entidades separadas. <br />
<br />
E é isso que é amor.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-80012097061355448032012-08-10T02:31:00.003-03:002012-08-17T22:25:08.260-03:00Eu...Eu capto as pessoas.<br />
<br />
Tenho facilidade para perceber o que querem, sentem e pensam. Mas nem por isso me adéquo. Não vou omitir o que penso e sinto só pra conseguir os resultados que espero delas. Quero ser honesto e acho que essa é a melhor maneira de se viver:<br />
<br />
sem meias palavras, <br />
sem meandros, <br />
sem omissões, <br />
sem jogos, <br />
sem sedução.<br />
<br />
Me exponho, conto os podres, e os resultados são o que são, paciência.<br />
Hoje me afasto como o diabo da cruz de quem faz o contrário, porque não quero ficar decifrando charadas. Gosto das coisas claras, em pratos limpos, ditas inteiras.<br />
<br />
E sim: essa atitude me faz perder o que você chama de "oportunidades" e, eventualmente, sofro.<br />
Mas estar vivo, inclui frustrações.<br />
<br />
Prefiro o sofrer a realidade ao conforto da personagem.<br />
Sou o que sou, feliz ou infelizmente.<br />
<br />
Levei anos pra aprender a ser honesto.<br />
Agora vou aproveitar.<br />
<br />
<br />
<b>Por que fiz esse blog?</b><br />
<br />
Porque queria ter um cartão de visitas, para quem quiser me conhecer, poder começar pelo meu lado mais podre, mais sujo, mais triste e mais fraco. Assim seleciono quem quer estar comigo.<br />
<br />
Quem não gosta, se afasta num instante e lhes desejo uma boa sorte.<br />
<br />
Porque não quero ser amado a qualquer custo. <br />
Quero antes, ser eu. E que as pessoas me amem apesar do que sou.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-47945578562373197322012-06-30T00:33:00.003-03:002012-08-10T02:31:46.575-03:00Viver sem confortoEu sofro pelas minhas opções (sempre fiz opções difíceis).<br />
Mas opto por viver sem nunca me acostumar.<br />
Sofrer é estar vivo. <span style="background-color: white;">Estar contente é morrer.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://0.gvt0.com/vi/ruN_LR60ZfQ/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/ruN_LR60ZfQ&fs=1&source=uds" />
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<br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small; text-align: justify;">Não quero nunca o conforto de "deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia".</span>Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-14112997746108565032012-06-20T18:34:00.003-03:002012-08-10T03:18:51.031-03:00ViverSigo os mapas de meus planos de rota.<br />
Rotas para perder-me em lugar nenhum.<br />
Caminhos para que, sem saber onde ir, eu possa viver.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-14053260335577019912012-06-06T15:45:00.003-03:002012-08-10T03:23:01.682-03:00Ode do vagabundoQuando meu computador de marca ruim comprado barato no mostruário de uma loja popular desliga impetuoso na minha cara, sem sequer me avisar antes que a tomada lhe está desconectada, eu sinto uma raiva muito especial.<br />
<br />
Me lembro que é culpa da bateria velha e gasta pelo mostruário da loja e que eu tenho que lidar com esses pequenos engasgos cotidianos porque tudo que tenho é barato e usado e gasto pelos outros. Eu vivo, de certa maneira, dos restos de outras pessoas. Sou um refém da caridade alheia.<br />
<br />
Caridade do meu chefe que se sente benfeitor por me permitir enganar os clientes dele em troca de uma porcentagem ínfima do que eles pagam para serem enganados. Caridade da minha avó que me ama por falta de opção melhor na vida e gasta o pouco dinheiro que tem com presentes que me mantém funcional: sapatos, meias, bolsas, camisas e um computador de marca ruim comprado barato no mostruário de uma loja popular.<br />
<br />
Cresci em um bairro de trabalhadores numa família de gente que trabalhou desde cedo e fui encucado desde cedo no espírito de que o trabalho enobrece o homem e de que sem trabalho um homem não tem honra e de que honra e nobreza é poder pagar suas contas e comprar suas coisas. E mesmo que eu tenha outras contas do que possa ser honra e nobreza, no fundo me sinto diminuído e escorraçado por não usar o que sou para ganhar dinheiro e fazer girar a roda do sistema e dela catar as minhas migalhas para comprar um computador de marca boa com boas baterias.<br />
<br />
E às vezes, quando me vejo onde estou, me bate essa de colocar uma gravata e querer arrumar um emprego decente e poder ter. Ter essas tantas coisas que anunciam por aí e que vejo outros tendo à custa de tanto suor e esforço ou às custas da pura sorte de ter nascido em berço de ouro. Em geral da sorte de ter nascido em berço de ouro.<br />
<br />
Mas me nasce um terror tremendo quando me vejo lá no futuro, de camisa e gravata, com boas posses, enfurnado numa empresa de enganar gente, enganando gente, sendo gentil a quem me paga. Um horror que é o que mais me parece com morte, pois que é duas mortes: a morte do que eu sou e a morte do que eu posso vir a ser.<br />
<br />
A ser pobre eu estou acostumado. A viver com pouco eu estou acostumado. A ser vítima da caridade alheia, não me acostumo nunca. Mas não estar acostumado é, no fim das contas, a única forma de estar vivo. E eu me prefiro vivo e descontente.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-21377895715645595412012-06-04T03:45:00.003-03:002012-08-10T03:24:10.457-03:00De pai pra filhoO senhor de escravos dizia em 1700 ao seu jovem filho de botas enlameadas a passear na plantação:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"Quando um negro resiste, mate-o da forma mais horrenda que puder pensar, mas puna também todos os outros, mesmo os que não fizeram nada.<br />
<br />
Assim os que sobrevivem vão aprender a odiar quem quer revolucionar as coisas.<br />
O rebelde, o diferente, o incomum vai ser reprimido pelos próprios oprimidos.<br />
E aí a massa trabalha de graça para evitar a própria libertação.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Repita isso sempre e daqui trezentos anos, o seus netos e bisnetos vão ainda ser os donos da América."</blockquote>
O menino nunca esqueceu dessa lição.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-12034723463793053062012-04-22T01:58:00.002-03:002012-06-21T21:15:12.432-03:00CompassoEla virou-se de costas pra ele, sem olhar nos olhos e nem dizer nada.<br />
<br />
Com as nádegas tenras pressionou o pau de preto e sorriu largo ao sentir o volume duro passar pela sua bunda.<br />
<br />
Ele reagiu rápido. Puxou-a pra perto aumentando a pressão entre os corpos. Levantou o vestido, baixou a calcinha e meteu o pau pra dentro, com uma voracidade que foi pra ela um reboliço. O cilindro grosso atravessando a carne, doendo e machucando<br />
tão gostoso.<br />
<br />
Era sexo com força, de ritmo intenso. Ouviam carne bater na carne. Ele a segurava pelos cabelos lisos, empurrando a cara linda e a boca aberta contra a parede. Sem movimento, ela sentia-se domada e pedia mais.<br />
<br />
Mas a posse, que é via de mão dupla fazia ele ser todo dela. Não pensava, agia. Queria. Queria ser ela, estar nela, fazer parte dela. Então cuspiu duas vezes na cara dela. Dois fios grossos e molhados que escorriam agora pela pele branca. O arco longo de um sorriso completo e sedutor. A língua comprida que se contorcia para beber a saliva que agora era deles dois.<br />
<br />
O ritmo aumentou naquela dor selvagem de não ser mais si mesmo. Os arfares e gemidos de uma foda sem pudor, no corredor de um prédio familiar. Ele gozou nela, ela se gozou. E descansaram em pé, apoiados um no outro, bocas nos ombros, porra no chão e o barulho de dois corações disparados sem compasso. Era amor.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-11117803173644854312012-03-12T02:05:00.004-03:002012-06-18T12:32:29.191-03:00MentirasÉ na infância, quando surgem as primeiras vontades sexuais, que aprendemos a mentir.<br />
Incapazes de refrear o impulso da masturbação e sabendo-o proibido,<br />
aprendemos sozinhos a esconder e dissimular.<br />
E essa lição não se esquece jamais.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-8285613104117467292012-02-27T00:46:00.002-03:002012-03-04T23:32:56.142-03:00Confortável na InsegurançaO caminho da felicidade é estar sempre confortável na insegurança.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-32069558088781530852012-02-20T05:08:00.002-02:002012-03-09T22:09:14.469-03:00SintoniaAcordei apavorado e gritando
por que sonhei que meu rádio não sintonizava com ninguém.Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-48137766088819165702012-02-10T18:28:00.001-02:002012-02-10T18:28:28.957-02:00<div align="center"> <table style="color: black; background: #eeeeee"border="0" cellpadding="0" cellspacing="2"> <tr> <td bgcolor="#eeeeee"> <div align="center"> R-Drive Personality Test Results <table style="color: black; background: #dddddd"border="0" cellpadding="0" cellspacing="4" bgcolor="#dddddd"> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/status.html">Narcissism</a></td> <td width="50">||</td> <td width="30">5%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/unconventional.html">Unconventionality</a></td> <td width="50">||||||||||||||||||||||</td> <td width="30">100%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/empiricism.html">Empiricism</a></td> <td width="50">||||||||||||||</td> <td width="30">55%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/selfesteem.html">Identity</a></td> <td width="50">||||||||||||||||</td> <td width="30">66%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/othercentric.html">Othercentricism</a></td> <td width="50">||||||||||||||||</td> <td width="30">61%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/independent.html">Independence</a></td> <td width="50">||||||||||||||||</td> <td width="30">61%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/integrity.html">Integrity</a></td> <td width="50">||||||||||||||||||</td> <td width="30">72%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/intellect.html">Intellect</a></td> <td width="50">||||||||||||||||||||||</td> <td width="30">100%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/stoicism.html">Stoicism</a></td> <td width="50">||||||||||||||</td> <td width="30">55%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/orderliness.html">Orderliness</a></td> <td width="50">||||||||||||||||</td> <td width="30">61%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/dynamism.html">Dynamism</a></td> <td width="50">||||||||||||||||||||||</td> <td width="30">95%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/activity.html">Activity</a></td> <td width="50">||||||||||||||||||||</td> <td width="30">88%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/romantic.html">Romanticism</a></td> <td width="50">||||||||||||||</td> <td width="30">55%</td> </tr> <tr> <td><a href="http://similarminds.com/rdrive/hedonism.html">Hedonism</a></td> <td width="50"> ||||||</td> <td width="30">22%</td> </tr> </table> </div> </td> </tr> </table> <a href="http://similarminds.com/r-drive.html"> Take Free R-Drive Personality Test</a><br><font size="1"><a href="http://similarminds.com/personality_tests.html">Personality Test</a> by <a href="http://similarminds.com/">SimilarMinds.com</a></font> </div>Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8148730160022020547.post-19382130026395832612012-01-27T17:51:00.000-02:002012-03-04T23:34:33.455-03:00A caminho do fascismo canarinhoAqui havia o índio. Quando chegaram os europeus, trataram logo de matar e estuprar aquele povo que consideravam sem alma e vagabundo. Nascia o primeiro preconceito de que temos notícia nessas terras. O bugre, vagabundo e imprestável, depois de dizimado, foi relegado ao esquecimento.<br />
<br />
Ávidos, os civilizados portugueses passaram a trazer para cá homens africanos. Vagabundos e sem alma, mas muito resistentes, fora escravizados, estuprados e humilhados. Esses crioulos, macacos, escurinhos, tições, serviram por séculos ao enriquecimento da coroa portuguesa que enriquecia a coroa inglesa que decidiu, lá no século dezenove, era hora de acabar a escravidão.<br />
<br />
Liberto, o povo de cabelo ruim foi expulso aos montes da lavoura e acabaram nas cidades. Esses novos vagabundos - que já tínhamos esquecidos os índios, tão poucos agora -, sem trabalho, desocupados, acabaram nos entornos urbanos, escurecendo até hoje a paisagem das grandes cidades.<br />
<br />
Trouxemos então os italianos, espanhóis, alemães! Com grandiosidade inédita, importávamos gente branca e européia para trabalhar. Foi a primeira vez que o Brasil pensou-se poder ser potência mundial, mas é curioso que contra essa gente de pele alva, fomos incapazes de criar apelidos e chacotas. Talvez pela semelhança deles com a imagem branca de olho azul do cristo dependurado na cruz, talvez porque já tivéssemos aprendido naquela época que feio é não ser da Europa.<br />
<br />
Ficamos então com uma sociedade que parecia as capitanias hereditárias: por herança ficavam os brancos invasores, donos de fábricas e terras, com o melhor naco da riqueza, em seguida, também com sangue europeu, os brancos importados, trabalhadores assalariados nas grandes cidades. No meio do caminho, a gente parda com os empregos de serviçal. Lá no fim, os negros bem escuros, esses que se virem, sem emprego e a caminho da cadeia.<br />
<br />
Eis que no nordeste do país achamos uma raça amarela de olhos azuis de holandês, estatura de bugre, pele de negro e de sabe deus mais o quê. O nordestino, a baianada, os cabeça chata, os paraíba, vieram para agregar-se na pirâmide social brasileira. Ficando em algum lugar acima dos negros e abaixo dos brancos europeus, mas com destaque no vocabulário jocoso do sudeste. A verdade é que até hoje, resumimos toda essa gente ignorante com o nome de um estado só. A baianada!<br />
<br />
No Brasil, cresci aprendendo que os negros são vagabundos, os nordestinos ignorantes, os índios coitadinhos e os santos todos europeus. O mais curioso é que na história racial do Brasil não aparece a mais óbvia das nacionalidades: o brasileiro é sujeito oculto ou não existe. Esse país foi parido pela invasão de um povo que não está mais aqui e que nos ensinou o mal hábito de criar preconceitos para facilitar a dominação.<br />
<br />
Aprendemos que a culpa é do pretinho, porque é vagabundo e ladrão, do nordestino porque é ignorante e sujo. Mas nunca olhamos com ódio para a burguesia branca na televisão. É muito mais fácil e habitual encontrar um inimigo entre nós.<br />
<br />
Agora, o Brasil passa de novo pela estúpida febre de ser um entre os grandes do mundo. Cada vez mais nos parecemos com o país de George Bush, compramos carros, roupas, garrafas de água e eletrônicos como se não houvesse amanhã. Importamos novas nacionalidades: bolivianos, coreanos, árabes e para eles, importamos dos EUA, novos preconceitos. Até os negros e nordestinos tem a quem achincalhar agora. Sorte dos donos brancos do país, que continuam ilustres e impávidos no brasão nacional.<br />
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O que me assusta é que em um país sem nacionalidade, onde somos todos invasores ou invadidos, possamos acreditar na ideia ridícula de fronteiras nacionais, ou de defesa dos empregos "para brasileiros". Me dói na boca do estômago um amigo negro odiando os bolivianos ou um amigo nordestino odiando os negros. É triste que as aulas de história européia não sirvam para nos ensinar como começa o caminho do nazi-fascismo e que já estejamos nos adiantando nele.<br />
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Quem aqui nesta terra pode se dizer brasileiro? Talvez, e acho que nem assim, um índio descendente das primeiras tribos, de sangue puro pudesse reclamar o direito de preservar os empregos do país para seu povo e nós teríamos todos que voltar, para a Europa, a África, o Oriente e a Ásia, onde não seríamos mais aceitos. Para eles, somos agora brasileiros, um povo de prostitutas e bandidos, que vai estar invadindo e roubando empregos deles. E um viva ao Bolsonaro!Ro Mannehttp://www.blogger.com/profile/17890780397396337093noreply@blogger.com0