31.7.08

Longitude

A pele é um muro intransponível.

Mesmo ao lado da minha companheira de um par de anos, as vezes parece insuficiente se encostar. Os beijos molhados e a pele grudada não resolvem nossa sensação de distanciamento um do outro. Uma solidão profunda que dá gana de matar.

Nesses dias, só o olhar salva. Nos mergulhamos um no outro, mostrando no ver a intenção de ser um só. Unificar.

Mas dá um medo doido de ser tudo superfície. Essa pele que nos prende em nós ser tão grossa que afaste qualquer chance de amor verdadeiro. Mas não é a pele. Somos nós. Treinados para competir não sabemos acompanhar. Malditos anos 90! Só o trabalho coletivo nos salvará da solidão... a linha de produção.

-------------------------

Um aparte

Mais uma vez me deparo com um problema de longitude... literal. Outra irmã de alma separada de mim pelos kilometros de estradas e pedágios. Esticar minha mão e testar sua pele. Um abraço de aceitação mútua. Os pelos do braço tocando os outros pelos. O calor carbônico do ar espirado na saboneteira, no ombro, no cangote alheio.

Uma intimidade faz falta.

Um comentário:

C. disse...

Ah R., que belo, sério... Me sinto confortável. Não tanto pela distância também.

"(...)Por que recusamos ser proféticas? E que dialeto é esse para a pequena audiência de serão? É agora, coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão."