6.3.09

Tanta coisa no choro de uma criança

E porquê haveria de chorar uma criança? Nada justifica.

Vi uma mãe hoje brutalizando sua filha... “pq você não larga de mim?”. Ela tinha 7 anos. Percorria a rua do centro da cidade agarrada nas calças da mãe. Tinha medo. Ela não vai esquecer essa frase nunca mais.

Uma criança chorando de fome, sentada nos degraus de um prédio antigo. São três da manhã. Ele não pede mais nada. Já desistiu. Nos olha com nada mais que amargura. Não tem aonde ir, não tem a quem chamar, não tem comida. Meu estômago se embrulha, revolve.

Penso nas velhinhas que choram e pedem ajuda todos os dias nas previdências da vida. Corpos cansados, ossos que doem e a carne que recusa a se mover. Mandam essa senhora trabalhar, trabalhar mais, além do que pode. E ela não se queixa do trabalho. Se queixa da indelicadeza com que dão a ordem. É uma gente forte, corajosa. Invejo essas senhoras e me envergonho quando no ônibus quero sentar-me.

Essa semana, uma menina, jovem como eu, chorava na televisão. Perdia 8 horas por dia no trânsito. Todos os dias. Todos. E trabalhava outras 8. “Isso é vida?” Perguntava. Era o mesmo choro. O mesmo menino na calçada. A senhora desolada na cadeira da previdência. O choro da revolta. Uma dor que move o corpo para frente, que não deixa desistir.

Eu invejo. Me sinto fraco. Frágil. Queria ter essa vontade inesgotável. As festas não mais me interessam. Não há o que festejar. Quero chorar esse choro doído com as crianças, os jovens e os velhos. Quero sorrir enquanto correm as lágrimas por ser esse o choro que rega o chão onde vão germinar as sementes de amanhã.

Com os olhos vermelhos de raiva e de gás pimenta, a menina da televisão combateu a polícia, queimou pneus. Eu, de longe, queria explodir. Choramos juntos. Aquele dia, foi o que podíamos fazer. Poderemos mais.

Um comentário:

Ivy Saruzi disse...

eu acredito. sempre poderemos mais.
agora uma pausa, um silêncio, uma lágrima.