5.6.09

Depressão

(Em junho de 2009 eu estava saindo da depressão. Foram meses de antidepressivos e reclusão auto-imposta. Esse texto tem, acredito, pouco valor literário - quase nada aqui tem - mas é um retrato bem fiel desse momento, o que o faz merecedor de permanecer aqui. Talvez, quem sabe, algum depressivo se encontre aqui.)

À frente uma vasta planície de areia branca. Nela não há nada. Não há saída sem uma longa travessia cansativa e seca. Dias de bocas rachadas, de pés cansados e roupas suadas.

No meio da planície, estou no pântano. Como fosse uma miragem está no meio da branca imensidão um pântano marrom e verde fumegante de vida.

Estou sentado entre lagartos. Gordos, fortes, pontiagudas caldas e dentes afiados. Me olham indiferentes com olhos vítreos e pele intocável. A cobertura de gosma impede o contato real com outros. Desconfiam. Qualquer movimento brusco e perco um naco de carne numa mordida, tentar me aproximar me deixará sozinho.

A dúbia companhia réptil me faz titubear. Se estivesse sozinho eu já teria iniciado a longa jornada em busca do que há depois da areia. Sei que outros homens trilharam esse caminho e encontraram algo na jornada. Nenhum, porém, chegou à cidade desejada. Foi no próprio deserto que encontraram o sentido de ser quem eram.

Invejo os homens de outros tempos que se lançavam sem medo no desconhecido. E eu aqui, parado no pântano, sinto o conforto que há nessa quentura mórbida. Um ninho onde se forma a vida e o hábito de aqui estar é um grilhão. O status quo em mim impera. Minha pele está verde e sem arrancá-la não saio daqui.

Lançar-se à aventura dói. A recompensa é duvidosa. Meu espírito já está lá. Há anos vaga na areia branca em busca de um corpo que ainda jaz aqui. Por isso me sinto perdido. Por isso me persigo sem fim. A alma busca o corpo que busca a alma e não se encontram. Não estão no mesmo lugar. Como estar? Deixe-me ir, preciso andar.

Nenhum comentário: