São três da manhã. Um casal se beija à beira da minha janela.
Ouço suspiros e arfares de prazer. Pequenos estalos de lábios úmidos se tocando e se separando e deslizando um sobre o outro. Risadas afogadas em olhares cúmplices. Mãos deslizando em tecido. Pele. Sons que falam de corpos quentes e colados, de movimentos lentos e intensos, de roçares.
Estou irado. Vermelho. Praguejo com todos os nomes. Gente imunda, gente baixa, animais. Fazer isso na rua, sem ritual, sem cuidado. Sujos.
Praguejo em silêncio, para não interromper.
E foram além agora. O compasso ritmado. Os fôlegos contidos. Gemidos silenciosos.
Penetram-se, selvagens. Eu quase me lembro. Carne abrindo caminho na carne.
Não tenho a curiosidade obscena de levantar e afastar a cortina. Só quero que se vão. O casal e as memórias.
Devoram-se.
Do passado ou da janela me vem um cheiro de pele, de saliva e de suor.
Os sons pararam, os amantes se foram. O cheiro permanece. Sem esquecer jamais.
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