5.8.11

Recado ao Richard


Escuta Richard Dawkins... se tu quer saber o que é que define a pós-modernidade, eu te digo.

É essa falta de coragem de fazer o que dá na telha. É essa mania horrorosa de ser bem comportado que a minha geração - a crescida ou nascida nos anos 90 - pegou no ar condicionado e na água de garrafinha.

A gente passou duas décadas ouvindo dizer que os comunistas estavam errados, que os hippies morreram de overdose, os viados de aids e os punks de tédio. Os pais da gente, desiludidos e assustados, criaram uma geração de babacas. Por medo das cagadas que fizeram, mataram nosso espírito de se arriscar.

Se os filmes dos anos 80 estivessem certos e 1997 fosse um ano apocalíptico sujo e perigoso, cheio de escombros e poluição, juro que as coisas seriam melhores. Mas nós crescemos confortáveis no ar condicionado, com sabonete bactericida, protegidos e amados. Fomos embrulhados em magipack, monitorados por bip e depois celular. E por isso não descobrimos nada, só aprendemos. E aprender o que te ensinam tem o defeito de matar a sua criatividade.

A nossa geração tá levando ao ápice a cultura do medo. Os jovens dos anos 70 fugiam da casa dos pais pra usar drogas, nossa geração usa drogas escondida no banheiro da escola (quando usa). Somos a geração que abre mão dos seus sonhos em nome da estabilidade financeira com aceitação social. Não é que não tenhamos sonhos, é só que aprendemos que eles são impossíveis.

Por isso nossas bandas são chatas, nossas roupas caretas, nossas festas bobinhas e nossa alegria banal.

Perdemos a coragem de ousar e agora nem sabemos mais como fazer. Estamos com 20 ou 30 anos, na faculdade ou diplomados e - se não somos babacas o suficente pra já estarmos casados e com filhos, reproduzindo a maldita família pequeno burguesa que a juventude do século XX se esfolou pra tentar matar - estamos perdidos, olhando um pra cara do outro, enchendo a cara de cerveja e pensando em como seria bom se alguma coisa acontecesse.

É claro que eu to falando da classe média ou daquele setorzinho filho de trabalhador que conseguiu estudar um pouco mais pra ter alguma consciência. Pra grande maioria, como sempre foi, é mais do mesmo. A diferença agora, é que agora, pra nós também é mais do mesmo e por não cumprirmos nosso papel de chacoalhar a realidade, condenamos o mundo inteiro a esse oceano de chatisse hipocundríaca light clean, de revisões ortográficas, protestos na calçada, sexo seguro e planos pro futuro. Estamos afundando o mundo num mar de nada.

Pós-modernidade é essa mania de ser certinho, pacifista ou cagador de regra, acadêmico ou pai de família, baladeiro e babaca. No fim das contas tudo um bando de bosta. E o que fazer então? Bom, se você tem que me perguntar o que fazer, só tá comprovando o que eu acabei de dizer.

Um comentário:

Priscila Andreza de Souza disse...

Se essa crônica estivesse impressa eu destacaria em amarelo com caneta Pilot as duas frases:


"E aprender o que te ensinam tem o defeito de matar a criatividade."

"Não é que não tenhamos sonhos, é só que aprendemos que eles são impossíveis."

Esse texto seria um chute no saco (que eu não tenho) se não fosse uma verdade estampada na cara de todos ao redor que conheço de sexo e ideologia. Mas entre pensar e fazer há um hiato imenso.

Adorei seu blog!