13.9.11

Circo Tímido

Na madrugada de qualquer grande cidade, vaga uma trupe silenciosa.

Vão calados, uma dezena de homens. Negros, porque escura é a noite. Negros, porque tal como escravos de correntes ao pescoço, trabalham sem conversar. Homens diferentes, uniformizados pela roupa verde de faixas florescentes e pelo silêncio. O cortejo segue.

Os homens da trupe andam com a mesma face contida dos trabalhadores de túmulos, que impassíveis cimentam o morto numa pequena parede do esquecimento. Trabalham com o mesmo respeito pelo sono alheio - aquele eterno, esse cotidiano.

Enquanto dormem atrás das janelas os cidadãos de bem, metade da trupe mórbida bate as enxadas na guia das calçadas e mata as jovens ervas que crescem ali. A outra metade, leva vassouras e arremata o serviço apagando os próprios vestígios, escondendo em sacos pretos as marcas da passagem desse circo de suor.

Assim, na manhã seguinte, perdida a luz da lua, o cidadão de bem não nota que algo mudou. Talvez, inconsciente na pressa, sinta algo mais organizado no quadro repetido da mesma rua em que sempre dorme e sempre acorda, mas jamais capaz de dizer que o estranho circo tímido tenha feito sua passagem.

Só que hoje eu acordei. Guiado pelo batuque das enxadas, ou por pura coincidência, acordei. Ouvindo os pequenos gritos do metal na pedra, animado como criança, apressei a me vestir, chinelos nos pés, corri até o portão. Silenciosa e respeitosamente, eu aplaudi.

Um comentário:

Daniel Paixão- Vice Presidente SEMEVEP 2011 disse...

Essa galera é foda man. Trampa enquanto o resto do mundo descansa. E são poucos (tipo você) que conseguem notar/ver o trampo desses mano. Parabéns man...very ROX!!!