Ontem voltei no tempo. Me encontrei
quando eu tinha vinte e um anos de idade.
Tentei me avisar que as pessoas vão
gostar mais de mim se eu for honesto e aberto, não porque o eu de
verdade é uma pessoa melhor mas porque pessoas de verdade são as
únicas que se pode amar, com todos os defeitos e dificuldades.
Eu disse pra ele que é preciso olhar
pra dentro e encarar a sua dor represada. Que guardar tanto ódio e
tanta mágoa num canto obscuro de você não vai funcionar. Essa
contenção sempre arrebenta e passa por cima da sua felicidade.
A impressão que fiquei é que ele
sequer me entendeu direito. E lembrando de como eu era naquela época,
imagino que seja difícil vislumbrar a possibilidade de ser feliz e
amado expondo o que existia – e existe – dentro de mim. As
personagens que eu criava pareciam tão mais atraentes e
interessantes.
Percebi que talvez o paradoxo da viagem
no tempo me impedisse de efetivamente mudar alguma coisa em mim
mesmo. Se eu aprendesse instantaneamente aos vinte e um anos tudo o
que sei agora, eu não teria passado pelas dificuldades, pelos erros
e pelas descobertas que passei e não poderia estar lá para me
contar isso tudo.
Mas sabendo o monstrinho que eu era, o
quanto eu iria ferir os outros, pensei que poderia avisá-los: saiam
de perto de mim. Esperem uns anos, lá na frente eu vou ser melhor,
vou ser mais sábio e mais verdadeiro. Mas outra vez, foram essas
pessoas que me fizeram crescer e se eu fugisse delas ou as fizesse
fugir de mim, estaria pra sempre preso naquele mundo de ilusão que
criei.
Então decidi que não havia nada a
fazer a não ser ficar ao meu lado e ser o mais parceiro possível,
apoiar-me nos momentos em que as descobertas doloridas chegarem e
sempre me avisar de que o futuro é melhor e de que toda essa dor e
essa dificuldade em aprender, vão me recompensar com juros.
Eu te(me) amo, imagem no espelho.
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