10.1.14

Paradoxo do Tempo

Ontem voltei no tempo. Me encontrei quando eu tinha vinte e um anos de idade.

Tentei me avisar que as pessoas vão gostar mais de mim se eu for honesto e aberto, não porque o eu de verdade é uma pessoa melhor mas porque pessoas de verdade são as únicas que se pode amar, com todos os defeitos e dificuldades.

Eu disse pra ele que é preciso olhar pra dentro e encarar a sua dor represada. Que guardar tanto ódio e tanta mágoa num canto obscuro de você não vai funcionar. Essa contenção sempre arrebenta e passa por cima da sua felicidade.

A impressão que fiquei é que ele sequer me entendeu direito. E lembrando de como eu era naquela época, imagino que seja difícil vislumbrar a possibilidade de ser feliz e amado expondo o que existia – e existe – dentro de mim. As personagens que eu criava pareciam tão mais atraentes e interessantes.

Percebi que talvez o paradoxo da viagem no tempo me impedisse de efetivamente mudar alguma coisa em mim mesmo. Se eu aprendesse instantaneamente aos vinte e um anos tudo o que sei agora, eu não teria passado pelas dificuldades, pelos erros e pelas descobertas que passei e não poderia estar lá para me contar isso tudo.

Mas sabendo o monstrinho que eu era, o quanto eu iria ferir os outros, pensei que poderia avisá-los: saiam de perto de mim. Esperem uns anos, lá na frente eu vou ser melhor, vou ser mais sábio e mais verdadeiro. Mas outra vez, foram essas pessoas que me fizeram crescer e se eu fugisse delas ou as fizesse fugir de mim, estaria pra sempre preso naquele mundo de ilusão que criei.

Então decidi que não havia nada a fazer a não ser ficar ao meu lado e ser o mais parceiro possível, apoiar-me nos momentos em que as descobertas doloridas chegarem e sempre me avisar de que o futuro é melhor e de que toda essa dor e essa dificuldade em aprender, vão me recompensar com juros.


Eu te(me) amo, imagem no espelho.

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