Trocaram olhares
entre grades.
Cada um em sua jaula
espiava o olhar do outro em busca de, sem saber, um plano de fuga.
Por um tempo não
ousaram falar mas, com os dias passando e a rotina da prisão se
assentando nos corpos, foram se aproximando. Dormiam um pouco mais
perto, comiam se entreolhando e, às vezes, se sorrindo, sempre com
os traços negros tão simétricos das barras de ferro poluindo a
visão.
Depois, viviam
beirando a grade que separava os dois espaços cúbicos. Mesmo de
costas, olhando ou fingindo olhar qualquer coisa na parede de lá,
sentiam a presença do outro como a de um gêmeo que se esconde em
útero alheio.
E foi num dia sem
nada de especial, sem planejamento nem maldade, que se tocaram pelo
espaço entre as barras.
Sem saber ao certo
como a coisa começou, rápido se abraçavam entre os metais. Um
agarre desengonçado e preso que proporcionava um encaixe há muito
ansiado. No desconforto da cadeia gelada ficaram vermelhos. Mãos
corriam pelas costas, pela pele que suava já e olhos nos olhos tão
perto que se olhavam com medo de serem engolidos. Línguas nos dedos
e na palma da mão, bocas nos ombros, nos rostos; o encaixe dos
quadris e das cinturas e o beijo molhado e suculento de línguas
famintas que se acabava na grade e com gosto de ferrugem antes mesmo
de começar.
Ficaram assim por
horas, com a grelha de ferro aprisionada entre um abraço de tesão
puro. Choraram juntos sem se soltar. Trovejaram hipócritas contra a
prisão que lhes impedia de amar – sem querer notar que não havia
cárcere nem carcereiro: a chave estava bem ali, uma metade escondida
em cada uma das bocas que se recusavam a juntar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário