Todos os olhares convergiram quando ele desceu do ônibus. A cara de garoto urbano não desmentia a estranheza que ele causava na paisagem com suas mochilas de lona e a sandália praiana. Os homens de pé na porta do bar seguravam os copos e os cigarros como que extasiados pela novidade.
O rapaz jogou às costas as duas mochilas e pegou meio sem jeito a grande mala que saiu da barriga do ônibus.
Agradeceu ao motorista com um sorriso e ameaçou andar. Voltou-se, no entanto, e perguntou ao motorista qual era a direção da igreja. Ocupado com fechar as portas do bagageiro, o motorista apontou uma direção.
Era oeste, pois lá o sol ia já se aconchegando rumo ao outro lado do mundo. Agradou a ele que pudesse caminhar com o sol no rosto. Passara dezenas de horas apertado na poltrona do ônibus e esticar as pernas, respirar e sentir o sol trazia-lhe de volta a vida. Deu os primeiros passos enquanto, no bar, os homens permaneciam estáticos e seguiam com o olhar a inusitada figura sorridente que, agora sim, caminhava.
A cidade dava a impressão de ser como imaginara. Ruas de terra. Casas de madeira ou de alvenaria bem rústica. Cachorros soltos por ali. Televisores solitários nas salas e gente nas soleiras das portas. Olhava as pessoas que o encaravam sem cerimônia e fazia menção de um cumprimento, apenas para que nada mudasse nas expressões e gestos das pessoas. Só sabia que era visível, pois de acordo com seu andar, os pescoços iam se torcendo devagarinho e acompanhando a sua rota.
Uma das casas tinha dois andares, coisa rara naquelas bandas onde se via sempre um pedaço do horizonte, e da janela de cima, uma cara redonda e branca, de olhos escuros enormes olhava o por do sol. Os cabelos negros em caracol caindo pelas bochechas serviam de moldura e destacavam violentamente aquela feição em meio aos tons tão pastéis da região. Essa cara, que ele notara tão evidentemente, era por ironia a única que fitava o sol e ignorava o deslocado transeunte.
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