O artista de rua fere o gosto mediano dos carros comprados a prazo.
Seu espetáculo de rua é exatamente o cotidiano de quem está no volante: sorriso forçado, malabares em troca de migalhas, ostentando uma altivez que nem de longe condiz com sua verdadeira condição material. Mendigos se fazendo de burgueses. A mesma farsa, vestidos como não querem, fingindo ser o que não são.
Um absurdo! – eles pensam sem saber porque se sentem escrachados.
Torcem o nariz.
Fecham o vidro.
Negam o trocado.
Seu espetáculo de rua é exatamente o cotidiano de quem está no volante: sorriso forçado, malabares em troca de migalhas, ostentando uma altivez que nem de longe condiz com sua verdadeira condição material. Mendigos se fazendo de burgueses. A mesma farsa, vestidos como não querem, fingindo ser o que não são.
Um absurdo! – eles pensam sem saber porque se sentem escrachados.
Torcem o nariz.
Fecham o vidro.
Negam o trocado.
Na Kombi enferrujada caindo aos pedaços, dois homens negros sorriem para o show. Claro que se reconhecem no artista, na mesma árdua tarefa de ganhar o pão. Mas não acham nada humilhante, pois que não vivem de mentiras. Quando o artista passa, dão-lhe um pouco de dinheiro e muita atenção, agradecem e sorriem.
O farol abre. O artista tira da cara o sorriso forçado. Bochechas em câimbra. Os carros laminados partem afoitos em direção ao trabalho, ao cabeleireiro, à academia, carregando rostos maquiados sem expressão. A Kombi luta contra a idade, resmunga um pouco, mas também sai, seguindo de longe os reluzentes vidros filmados... E os dois homens lá dentro, são os únicos que ainda sorriem.
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