Eu fui para a casa de meus pais. Tinha comigo um par de malas muito pesadas. Era tarde, madrugada. Eu estava já dentro da cozinha pouco familiar, devia ser uma nova casa de meus pais. Estava terrivelmente escuro e eu não podia ver. Naturalmente, bati a mão no interruptor. Como não vi a luz, bati a mão no interruptor e bati a mão no interruptor e bati a mão no interruptor. Não sabia por que eu me comportava de maneira tão neurótica e repetitiva. Havia algum problema com o interruptor, bati a mão no interruptor.
Eles dormiam no quarto. Eu podia vê-los no escuro da cama de casal. Queria muito acender a luz e me agoniava aquela escuridão toda. Decidi mexer nos disjuntores e cliquei freneticamente para que algo acontecesse. Eu queria ver alguma luz. Mas mexi nos disjuntores e mexi e mexi e mexi e mexi e não havia luz.
Decidi andar pela casa e fazer barulho para chamar a atenção. Queria ser visto e certamente minha mãe saberia resolver aquele problema com a luz. Corri pelo corredor em frente ao quarto deles. Passos pesados na ida e na volta. Fiz barulho, falei frases sem qualquer sentido em qualquer língua que não sei qual é. Como não vi nada. Fui até a sala. Minhas malas, o tempo todo eu me lembrava que minhas malas estavam no escuro da cozinha. Elas me preocupavam, a escuridão me deixava muito assustado e eu trepidava em pé no meio da sala.
Deitei-me no sofá. Vou dormir aqui, minha mãe vai me ver e vai me acordar e vai haver luz. E havia uma linha em meu olhar, um fio de luz que se quebrava. Quebrado. Eu chorei e gritei e não havia voz alguma. Eu não estava lá, não havia luz, eu não mais me movia. Passos pesados outra vez, mas não era eu. E eu não estava mais lá. Nem as malas. Nem a luz. Nem meus pais. Nem nada mais.
Sonhei com isso agora, acabei de acordar para escrever, são 3:06 da manhã, dia 25 de fevereiro de 2011, estou em Florianópolis faz um mês. Tomei uma chuva terrível na cabeça e há alguns dias que algo está me incomodando, algum sentimento como um zunido agudo que não sei da onde vem, mas anda tirando o ritmo do meu coração. Entender-se, me parece, vai ser uma aventura eterna.
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