20.2.11

Orixá vermelha!

Cada passo na tua direção me diz para correr pro outro lado. Cada perspectiva de felicidade possível me aterroriza. Não sou homem suficiente pra tanto. Você exala poder. É orixá que demanda sua oferenda em troca de favores duvidosos. Dança erótica na minha frente, pele colada no meu nariz, suor na minha boca, para depois rodopiar para lá: não longe das minhas mãos, mas protegida do meu desejo pelo respeito que tua força impõe. Ferve meu estômago. Me apaixono pela minha algoz. Desejo a morte no teu colo, meu rosto deslizando no nosso suor, a lâmina branca entrando na minha nuca. Eu, tua oferenda, para aumentar teu poder e te fazer mais rainha de si mesma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não conseguia dormir, decidiu dar uma caminhada. No meio da estrada encontrou uma poça de águas densas e profundas, sentou na sua beira e ficou observando o reflexo das muitas luas que podem existir em uma mesma madrugada. Naquele jogo de reflexos delineava-se a distancia de dois infinitos. Estremeceu. Medo de cair? Não. Era outra coisa. A vertigem antes de ser o receio do abismo, é “a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados." Onde havia lido aquilo?! Lembrou-se. Em alguma página escrita por Kundera. Vertigem, sim. A moça olhava a poça. Seu corpo amedrontado estava pronto para se erguer assim como os pés para sair andando, mas se não conseguia piscar, sequer se moveria. Foi quando que, no meio daquele transe de olhos e águas, percebeu uma movimentação estranha, e as letras que ali se encontravam mergulhadas - quase sem fôlego - esticavam-se para a borda e pediam-lhe socorro. De subido estendeu os braços o máximo que pode, mas antes que conseguisse agarrá-las... um ponto de interrogação emergiu enorme



foi ele quem a engoliu.