Salivou. Mordeu os lábios. Um frio na boca do estômago quando ela passou.
Eram cabelos escuros e lisos, soltos na altura dos ombros, uns fios grudados no suor das têmporas, que só realçavam a ginga das mechas soltas. O pescoço esguio à mostra, conduzindo ombros largos até uma nuca salpicada de calor. Costas fortes a cintura definida. O sapatinho baixo dando um ar decidido e sedutor ao andar. Belos tornozelos. Panturrilhas curvas que iam se esconder sob a barra amarela do vestido.
Seguia-a com o olhar. Encantadíssimo. Apaixonado.
Passou a segui-la, agora, com o corpo todo. Iam pelo pequeno caminho que estreitava em meio ao mato. Cada vez mais escuro, conforme a noite caía. Percebendo-se seguida, ela olhou pra trás uma ou duas vezes. Pareceu que sorria. Sim. Ela sorria. Convidava.
Apertou o passo e ela também. Acelerando, ela ficava ainda mais sexy. Rebolava mais naquele jogo de gato e rato. Provocava mais. Ele imaginava já as texturas e os cheiros do encontro e sabia que logo à frente, poderia cortar caminho e surpreendê-la.
Quando viu o homem grande surgir na sua frente, o corpo reagiu, tomou ar para gritar, mas veio uma mão forte e áspera sobre os lábios, apertando-lhe a cara. As pernas grandes dele enlaçaram as dela e numa rasteira ágil botou o pequeno corpo deitado ao chão, costas na terra e um vulto másculo sobre ela toda.
Ele conhecia bem aquele canto de mato. Eram ali invisíveis pra quem passasse pelo caminho. Resolvido racionalmente, não via mais nada, era só desejo animal. Trabalhava duro para conter o pequeno corpo que relutava em dar acesso ao meio das coxas grossas, agora expostas, vestido erguido. Enquanto uma das mãos apalpava as pernas quentes e a pélvis lisa, a outra permanecia firme tapando a boca e forçando a nuca contra o chão.
Olhos nos olhos, ele via os dela logo acima de seus dedos, arregalados, assustados, lacrimejantes. Ela se consumia no esforço de se debater e tentar gritar, agitava o corpo, contorcia, mas estava sob domínio de mãos fortes. Numa bela dança, gotas lentas corriam dos olhos dela, pretejavam na maquiagem e seguiam a silhueta dos dedos dele até o chão.
Com os joelhos ele começava a vencer a resistência e já uma de suas pernas estava entre as dela. A outra seria a chave para abrí-la por completo. Que luta! Ela resistia bravamente. Ele decidiu ir adiante e, tirando por um segundo a mão do rosto dela, deu com a outra um tapa sonoro. O rosto bonito balançou rápido para um lado e para o outro, despejando na grama cuspe e sangue. Por alguns segundos, ela fechou os olhos e o corpo inteiro amolecido se entregou a ele.
Quando voltava a si, ainda confusa, via o ir e vir repetido de um vulto sorridente. Os ouvidos voltando num apito começavam a distinguir sons entre grunhidos e gemidos graves. Na boca, o gosto ferroso de sangue e cálcio, algum dente que se partira. Por fim, lentamente, o tato percebia a facada do grosso e roliço volume que lhe penetrava o abdomen com força e vigor. As carnes do ventre se afastavam para o homem que a possuía com paixão. Mesmo com o pau dentro dela, o homem grande ainda estava cara a cara. Tinha no rosto um sorriso intenso e babava sobre os seios dela enquanto cavalgava.
Ela voltou a se debater. Pensou em empurrá-lo com as pernas, mas estava ainda muito fraca para aquela massa tão bruta. As mãos ainda iam presas. Uma pela mão dele, a outra retorcida entre as próprias costas e o chão. Tentou puxar o ar para gritar, mas era de tal potência o impacto de cada investida do quadril do macho que lhe tirava a força do diafragma, botava fora o ar antes que pudesse articular um grito definido.
Apenas um quase som, agudo, como algo que pretende tornar-se um grito despertou o homem e fez-lhe meter a palma da mão suja sobre a boca dela outra vez. Estava todo no paraíso e sentia o carinho morno da buceta dela apertando-lhe o pau. Colocava mais e mais força no cavalgar e ela, submissa, não reclamava, nada dizia. Devia estar sorrindo sob a mão.
Na boca, ela experimentava suor, sujeira e sangue. Mal podia respirar, menos ainda gritar e sequer pensava agora em se mexer. Resignava-se a manter o corpo rijo na tentativa de dificultar o zig zag do coito. Mas sentia-se cada vez mais penetrada e atingida em lugares reconditos. Ele a tocava inteira, cada parte da pele coberta pelos poros dele. Suores se encontrando, misturados nas barrigas, nos peitos, no rosto e na mão, nas ancas, nas coxas.
Ele viu lágrimas. Ainda não tinha notado. Ou tinha. Mas agora via as lágrimas. Ela não estava gostando. Não estava. Mas ele estava. Quis parar. Não parou. Quis gritar para que ela parasse de chorar. Mas não gritou. Estava quase gozando. Começou também a chorar. De prazer e de dó. Chorou sobre ela. Sorria também. Ia gozar, estava quase. Tapou nela também o nariz. Acelerou o quadril. Estocava firme e forte, arrastando e esfolando o pequeno corpo na terra. Ela olhava para ele. Olhos enormes e fixos. Achou que ela ia também gozar. E gozou forte, dentro dela. Uma torrente enorme de sensações e prazer sem endereço no cérebro.
Um silêncio longo. Ninguém passava na estrada e o vento da noite secava o suor na pele. A respiração foi voltando devagar ao ritmo normal.
Por fim, ele se levantou. Pôs as calças no lugar. Olhou para o pequeno corpo no chão, a mão ainda atrás das costas. A porra dele escorrendo pela terra. Agora ela parecia bem menos atraente, sem reação, fria. Tentou olhar outra vez para aqueles lindos olhos arregalados que fitavam o céu e se encantar como antes, mas não funcionou. As linhas pretas das lágrimas maquiavam as bochecas. Linda, mas tão fria. Ele caminhou para longe.
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Ele foi achado dias depois. A polícia achou, na verdade. Estava num motel não muito longe do bairro.
Na porta, uma turba de umas sessenta pessoas. Era também um fim de tarde.
O policial que liderava não quis enfrentar problema por causa de um bosta como aquele. Soltou o cara sem as algemas no meio da multidão e descarregou uma lata de spray de pimenta na parede...
O filho da puta nem resistiu. Tomou a primeira paulada na cara e caiu de joelhos no chão. Tomou outra e outra. Todos sentíamos o direito de tirar um pouco de sangue, quebrar um osso que fosse. Conhecíamos a coitada. Paus, pedras, pedaços de ferro. Em menos de um minuto a cabeça dele abriu no asfalto. Correu um líquido grosso, vermelho. Pena que aí ele não tinha mais cara. Era tudo uma massa um pouco disforme. E foi só aí que eu consegui dar um chute, porque a imagem desfigurada já afastava os menos decididos.
Achei um espaço pro impulso e biquei no lugar onde era a boca. Pensei que mesmo àquela altura, era capaz de o cérebro estar vivo e ele ainda sentir algo. Queria dar um chute bem na boca. E dei. Voaram uns pedaços de dente e um esguicho de sangue por trás.
A coisa toda foi menos que um minuto. Aí os policiais atiraram pro alto, dois tiros. O pessoal entendeu. Recuou. Mas não tinha tensão no ar, tinha uma sensação confusa de liberdade e mal estar. Justiça, eu acho.
No chão o cara ainda tinha uns trimiliques, como rabo de lagartixa cortado. O policial deu a última paulada, bem na parte de traz da cabeça. Coisa de profissional que fez as tremedeiras pararem na hora. Pegaram o corpo, meteram na parte de trás da viatura e partiram pro "socorro".
O sol ia se pondo. Sem falar nada, as pessoas foram se afastando, pequenos grupos saíram pra cá e pra lá. Na maioria em silêncio. Não é o tipo de coisa de que se fala. Só algumas senhoras soltando aquele indefinido "que horror!". O líquido grosso ficou lá no chão. Escorreu pra valeta, pro bueiro e foi embora pro esgoto. Parecia chocolate.
Um comentário:
genial
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