10.8.11

Maturidade

O tempo vai passando e você amadurece.

Comecei a me perguntar porquê quanto mais você se conhece, mais sozinho vai ficando. É que nada afasta mais os outros do que a honestidade: ser honesto é ser mais você e nada assusta mais alguém do que outro alguém. Na psiquê só tem espaço pra um ego.

Eu tenho agora trinta anos. Só trinta anos, é pouco, eu sei. Superei a fase de me sentir velho. O que tenho agora é essa leveza no peito, essa tranquilidade de quem já conheceu o fundo do poço e chegou até a se acomodar lá embaixo e sabe que dali pra frente (ou pra baixo? ou pra cima?), só pode melhorar.

O pânico foi embora, a tristeza deu lugar a uma melancolia cumprida em que a gente carrega penduradas as memórias. Nada mais é exatamente novo, porque seu vocabulário de rostos e personalidades já está cheio e só o que dá pra fazer agora é viver por comparação. Cada nova pessoa é uma nova versão de alguém que já passou.

Mas é uma segurança boa essa de se sentir maduro. Eu vivi. Vivi mesmo, intensamente cada vontade e cada loucura em que me deu vontade de acreditar. Machuquei muita gente, me machuquei também. Algumas feridas curam, outras não, mas todas ensinam, de um jeito ou de outro. E tem também essa espécie de sabedoria torta que a gente adquire, isso que é mais como uma manha que a gente pega pra sacar o que a vida tá querendo dizer, afasta muito as pessoas.

É incrível porque lá nos vinte e poucos anos eu achava que pra ser amado e querido eu precisava saber mais sobre o mundo e ser capaz de ajudar as pessoas com isso. Agora eu sei que saber mais não te ensina a ajudar ninguém, porque as pessoas só aprendem quando estão prontas e não precisam de professor. Ao contrário, o professor oprime e assusta. Só se ensina, mais ou menos, por exemplo. Aprende quem presta atenção.

Eu tinha muito medo de terminar a vida sozinho. Primeiro tentei pensar como as pessoas, depois, eu tentei convencer as pessoas a pensar como eu. Agora eu me convenci de que tava tudo errado. Eu tenho certeza de que vou terminar a vida sozinho ou muito próximo de sozinho e isso me incomoda, mas de um jeito quase impessoal: é um incômodo com o jeito estranho com que a vida funciona, mais do que uma preocupação com o destino individual.

Os 30 anos, esse pedestal, tem uma camada de não sei o que que é um repelente de gente.  Uma coisa horrorosa mas necessária que faz as pessoas te olharem assim, com aquela admiração distanciada que não é amor. E é assim que tem que ser porque é o que eu quis ser, sem saber, quando tinha vinte e poucos anos e, veja que bem sucedido que sou, sem saber, eu sou.

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