(Uma mesa com uma luz sobre ela. Duas cadeiras. Uma vazia e na outra uma jovem. Um homem de calça social e camisa aberta está em pé. Pressiona a moça com sua presença. Entre o palco e a platéia, um grande vidro quadrado, um espelho para o palco, transparente para a platéia.)
Joana - Não adianta me olhar assim. Eu sei bem o que fiz.
Dércio - Não sabe não. Pensa de novo. Você matou o pai do filho que você carrega na barriga.
Joana - Já disse. Eu sei bem o que fiz.
Dércio - Então você confessa assim, sem remorso.
Joana - Sem remorso.
(Dércio sai. Joana permanece sozinha por um tempo, fitando o espelho. Ele volta com um gravador.)
Dércio - Pronto. Aos fatos. Encontramos o corpo dele na cama, sem sinais de luta. Ele não teve tempo de resistir, você esperou ele dormir, não foi?
Joana - Foi.
Dércio - Mas mesmo assim o corpo tinha 17 facadas. 6 só no rosto. Se ele morreu na primeira, pra que tudo isso?
Joana - Você já matou alguém?
(Dércio dá um tapa na cara de Joana)
Dércio - Respeito moleca. Sua doente. Pra que 17 facadas se ele já tava morto? Hein?
Joana - Porquê depois da primeira, a raiva não passou. Eu queria que ele tivesse acordado, queria que ele entendesse o que tava acontecendo. Quando vi que foi tão fácil, que ele não reagiu. Me decepcionei. A raiva continuou... e eu continuei. Até passar.
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